Ser cristão é ser contra a injustiça
- Victor Hugo Ramallo
- 14 de jun. de 2013
- 5 min de leitura
(Republicando mais um texto antigo do Facebook)
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"Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas." (Isaías 1 : 17)
Talvez o que eu escreva aqui cause estranheza a alguns, mas me concedam um pouco de paciência. Leia com calma e atenção estas linhas
Ontem, 13 de junho de 2013 aqui em São Paulo aconteceu o 4o dia de protestos dos jovens e outros cidadãos contra as ações do governo contra a população. Não era apenas um protesto contra o aumento de vinte centavos na passagem, mas contra tantas coisas que temos permitido que os diferentes governos façam com a população, ou seja, conosco. O descaso com a saúde, com a educação, com a segurança (não contra uma passeata de protesto, mas contra crimes de fato). Até ontem observei a distância via diversos canais de notícias o que estava acontecendo, li com atenção vários textos e acompanhei com muito interesse.
Contudo ontem aconteceu um fato que mudou tudo. Meu filho caçula me informou que iria participar da passeata. Eu tinha certeza que essa passeata seria atacada com violência pela PM e assim meu filho. Como sabia isso? Eu vivi o período final da ditadura militar, tinha 15 anos e participei de passeatas e movimentos que pediam a democracia em nosso país e sei que muitas vezes isso tudo acaba em violência e os manifestantes levam a pior contra a PM. Decidi ir ao evento para ou tentar demover meu filho de participar e se não fosse possível eu iria tentar protege-lo, meu outro filho (o mais velho) se juntou a mim e fomos em direção a Praça Ramos.
Sou e sempre fui um defensor da liberdade e inimigo de tiranias e ditaduras, muito me frustrei ao ver que os grupos políticos que apoiei na juventude na luta pela democracia ao chegarem ao poder se tornaram lobos vorazes e extremamente corruptos, mas com o tempo acabei me afastando do envolvimento direto com o justo desejo do povo por justiça e igualdade e me foquei mais em outros campos de atuação (missões, evangelização, cuidado da igreja onde sirvo como pastor e escrever textos para conscientização dos meus irmãos na fé), contudo quando cheguei lá no centro de SP o que vi me fez voltar no tempo e parte de mim despertou. Vi jovens, adultos e anciãos marchando lado a lado, proclamando palavras de ordem contra a corrupção, os abusos do governo e pedindo por melhorias para a nação. Não vi violência ou agressividade nesses jovens, Aslam e eu estávamos exatamente na “linha de frente”, mas como meu propósito lá era cuidar de meu caçula começamos a subir junto com os manifestantes em direção a Av. Paulista, na altura da rua Maria Antonia entramos nessa rua e ficamos próximo a esquina. A PM montou um bloqueio para tentar impedir o avanço dos manifestantes.
A passeata com palavras de ordem requeria passagem e queria o direito de chegar até a Paulista e lá expressar sua indignação não só com o aumento da tarifa da passagem, mas contra todas as injustiças que afligem nossa gente.
De repente, sem nenhuma provocação e sem nenhum ataque por parte dos manifestantes os policiais próximos a nós começaram a disparar e lançar bombas! Eu estava lá! Eu vi! Não me contaram! Vi se repetir o que eu tinha visto há 30 anos! Começou a correria e a PM começou a bater nos jovens e ataca-los. Aconteceu o que eu temia, alguns manifestantes reagiram e começaram a jogar pedras na PM, contudo a maioria gritava por paz e a PM simplesmente ignorou. Isso aconteceu a menos de 10 metros de onde Aslam e eu estávamos. Escondemo-nos atrás de carros para evitar as balas de borracha e bombas que a PM jogava em nossa direção. Vi jovens que não fizeram nada de agressivo se colocarem de joelhos em posição de rendição serem ameaçados por PMs armados e alguns serem agredidos. A fumaça era imensa, gás pimenta, pólvora e creio que gás lacrimogênio. A PM tinha se preparado não para conter excessos dos manifestantes, mas para reprimi-los com violência (e toda a violência é SEMPRE excessiva). Toda a confusão durou um pouco mais de 30 minutos naquela esquina, mas parecia uma eternidade, tirei algumas fotos e vi a PM me ameaçar de arma em punho.
Infelizmente em meio aos manifestantes havia pessoas dispostas a reagir de modo violento e eles foram subindo a Rua da Consolação e depredaram pelo menos um restaurante, não vi isso acontecer, os funcionários me contaram.
Quem é o culpado de tudo isso?
O governo que permitiu uma PM mal treinada e violenta? Partidos radicais (PSTU, PCO e PSOL) que se aproveitam dos jovens para gerar caos e conseguir projeção política e tenho quase certeza absoluta que se chegarem ao poder serão tão corruptos e ditatoriais como o PT? Lideranças de movimento sem uma clara noção dos riscos?
A resposta às três perguntas é: SIM!!!!
Para mim é claríssimo que PSTU & Cia querem o caos para conseguir crescer e apenas usam os jovens e demais manifestantes como “bucha de canhão”. Esses partidos não querem o bem do país, mas apenas chegar ao poder e implantar uma ditadura stalinista.
O governo que está (PT e PSDB) apenas quer fazer o que lhe interessa e não está nem ai para o povo. Gastam fortunas no que não precisa e direcionam dinheiro aos seus currais eleitorais, mas exploram o povo.
A liderança do movimento é mal preparada e não tem uma visão prática e realista e expôs os manifestantes a riscos desnecessários.
O que deve ser feito então?
Ao invés de ficarmos alienados que mostremos nossa indignação como for possível, pelo menos nas redes sociais deixe clara tua insatisfação. Não permitam que se cristalize a ideia que os manifestantes são apenas maconheiros, vagabundos e baderneiros. Provavelmente no meio de uma multidão como aquela havia pessoas assim, mas a imensa maioria era composta de estudantes e trabalhadores insatisfeitos com a classe governante e que já não podiam mais ficar quietos.
Talvez alguém pense que escrever, apoiar e participar dos protestos não é compatível com ser cristão. Engano!
Calar-se ante as injustiças é compatível com o inferno! Um cristão se manifesta contra a opressão e a injustiça de modo pacífico e se precisar e puder ir às ruas para que os que governam o país ouçam sua voz ele deve assim agir!
Concluo declarando que a insatisfação de um povo contra governantes corruptos e opressores tem meu apoio e participação, mas peço e conclamo aos manifestantes que não se deixem levar pela violência e que aprendam com o Senhor JESUS a dar a outra face, mas ao mesmo tempo combatam o erro e a injustiça.
"Sei que o SENHOR sustentará a causa do oprimido, e o direito do necessitado." (Salmos 140 : 12)
Um fraterno amplexo
Victor Hugo Ramallo
Cristão-batista desde 1983 e sirvo como pastor desde meus 29 anos.
As fotos não estão boas, eu sei, mau fotógrafo, mas correr, se abaixar, desviar de bombas e tiros e tirar fotos é muito complicado!





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