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Maldição Hereditária – 1a Parte

Análise de Exodo 20. 4 a 6

Existem muitas diferenças entre os diversos pregadores dessa doutrina (tanto teóricas como práticas), contudo me parece que esses quatro itens são comuns a todos. O texto base deles se encontra em Êxodo 20.5b onde lemos: “sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.”

Numa leitura superficial parece que eles tem razão, mas vamos analisar o texto mais a fundo. O que lemos na parte “A” do verso?

“Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus,”

“Delas” quem? O verso quatro nos informa que a questão tratada é a idolatria e o “delas” são as imagens de ídolos. Assim sendo o texto não trata de qualquer pecado, mas de um pecado específico. Da mesma forma o castigo apresentado não se aplica a qualquer pecado mas a idolatria. Logo aplicar este texto a outros situações como alcoolismo, drogas, adultério e outras mais é ir além do que o próprio texto define.

Uma questão interessante é que, apesar dos “ministros de quebra de maldição” recorrerem ao exorcismo (expulsão de demônios) para “quebrar as maldições”, quem visita o iníquo de acordo com o texto em foco não é um demônio, mas o próprio DEUS "sou DEUS zeloso que visito". Logo, não há o que ser "expulso", mas se nada há para ser expulso como explicar todo o ritual que muitas vezes é presenciado nesses momentos? Algumas vezes as pessoas envolvidas ("ministros" e "ministrados") sinceramente acreditam que está sendo expulso um demônio e se comportam com base em tal crença. E as outras vezes? Bom podemos especular. Em alguns casos efetivamente era um demônio e a pessoa que recebeu a "ministração" não "herdou" o demônio, mas, posto que não é cristã, permitiu (ou até mesmo convidou) a entrada deste anjo caído em sua vida e agora está sendo liberta.

Também não deve ser descartada a hipótese de fraude consciente.

Mas voltando a questão dos "ministros de quebra de maldição" usarem tal texto (Ex. 20.4 a 6) para interromperem o proceso em curso sobre a vida do idólatra (lembre-se que o texto limita a esta questão a visitação em lume). Ora quem visita é o próprio Eterno DEUS! Eles vão impedir o Eterno de visitar e punir alguém, se Ele achar necessário? Entendo que não queiram fazer isso e efetivamente não possuem autoridade para tal, pois pode porventura pode alguém impedir DEUS de fazer o que Ele assim desejar?.

Um outro ponto é que existe uma condição para uma pessoa ser visitada. Qual é ela? O texto nos informa que é odiar (ou ”aborrecer” de acordo com algumas traduções) a DEUS. Um cristão preenche esse pré-requisito? Será que um cristão em sua vida manifesto o ódio ou o aborrecimento para com DEUS. Com certeza não! Fica muito claro que esse castigo/visitação não é aplicável a cristãos. A maldição expressa no texto inexiste para os que verdadeiramente são cristãos.

Vamos analisar tal questão mais detidamente o texto de Êxodo 20.5 e 6. Lá lemos que DEUS visitará a iniquidade até a terceira e quarta geração. Ora a visita do SENHOR é uma coisa séria e, no caso em questão, estamos falando do DEUS Eterno atuando para disciplinar e corrigir quem ele achar que deve.

Ora ninguém em seu juízo dirá a DEUS quem Ele pode ou não visitar, assim sendo não há lógica no trabalho daqueles que se dizem “quebradores de maldição”. Isso significaria que não haveria esperança para aquele que descende de um idólatra (por que é a esse pecado que o texto faz alusão e mais nenhum outro)

Contudo existe uma pequena cláusula no verso cinco que nos deixa claríssimo como se processa “a visita do SENHOR”. Lá lemos que Ele visitará “aqueles que me (a DEUS) odeiam”. Ora o que isso significa?

Quem odeia ao SENHOR? Ora, todo aquele que não deseja obedecê-Lo, servi-Lo e segui-Lo tem ódio dele e isso é instigado por satanás. Ora a descrição acima se encaixa em um cristão? É claro que não!

Como alguém pode dizer que CRISTO é o Senhor se o ESPÍRITO de DEUS não habitar nele? Assim sendo posso compreender que o cristão não se enquadra dentre aqueles que serão visitados pela ira do SENHOR. Mesmo que os ancestrais todos de alguém tenham sido bruxos, se esse alguém se render aos pés de CRISTO e entender que JESUS é o seu único e suficiente Salvador a visita da ira do SENHOR não se processará sobre ele.

Ao lermos o verso seguinte encontramos a seguinte declaração: “e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.”

Um dos princípios básicos da compreensão bíblica é o que podemos chamar de “coerência de aplicação de análise”. Ou seja se em um texto eu tenho uma comparação (seja de equivalência ou de oposição) e um dos itens dessa comparação é entendido de forma literal (ao “pé da letra”) os demais itens dessa comparação devem ser analisados de igual forma. Ora se os “quebradores de maldição” entendem que realmente são até 03 (três) ou 04 (quatro) as gerações amaldiçoadas por um ancestral iníquo então são, pelo menos, 1000 (mil) as gerações descendentes abençoadas.

Seria isso fato? Vamos analisar de forma prática. Os estudiosos são concordes em entender que no conceito judaico uma geração dura 40 (quarenta) anos, logo se considerarmos que a benção permaneceria por cerca de mil gerações podemos entender que tal período se extenderia por 40.000 anos. Bom, não conheço nenhum erudito cristão que date o dilúvio citado em Gênesis antes de 20.000 a.C.; compreendendo que todos os homens são descendentes de Noé temos como evidente que ainda não se passou o tempo previsto como duração da benção (recordem-se que esta é uma análise literalista ao extremo) e, dessa forma, todos os seres humanos que viveram até hoje, estão vivos e os que ainda nascerão até se cumprirem os 40.000 anos se encontrariam sob a benção que foi ministrada a Noé. Isso incluiria desde homens piedosos até os maiores crápulas da história. Se isso fosse um fato não haveria a necessidade de que fosse "ministrada a quebra de maldição", pois todos seriam "abençoados". Bom ninguém irá concordar com tal idéia absurda, cada indivíduo é plenamente culpável e pelo seu pecado e responsável pela sua decisão de se render aos pés de CRISTO, pressupor que todos, indiscriminadamente, se encontrariam sobre uma suposta benção é absurdo. Mas, se não podemos compreender o texto de forma totalmente literal como devemos compreendê-lo?

Bom algo que se destaca de forma claríssima é a equiparação de valores que temos: 4 versus 1000. O que se percebe nesta equiparação é o pouco (4) comparado com o muito (1000), percebemos também o uso do conceito de tempo (gerações), agregando um conceito ao outro percebemos que temos uma comparação entre pouco tempo e muito tempo ambos referentes a idéia de ministração da misericórdia divina.

Explicando de uma forma mais simples. O que podemos entender deste texto É que a ira do SENHOR dura por pouco tempo ("até quatro gerações), mas sua misericórdia dura por muito tempo ("milhares"), ou seja o texto nos ensina sobre a relação de DEUS para conosco e não sobre supostas maldições hereditárias.

Ora muitas pessoas gostariam que as maldições hereditárias fossem um fato, pois assim encontrariam uma bela desculpa para seus pecados, pois é muito mais cômodo atribuir a responsabilidade de nossas atitudes e pecados a atos dos ancestrais. Pode ser cômodo, mas com certeza isso não é bíblico.

Graça, paz e sabedoria!

Victor Hugo Ramallo, pastor

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