Sonha e ganharás o mundo? (1a parte)
- Victor Hugo Ramallo
- 31 de mai. de 2014
- 8 min de leitura
Este é uma análise de alguns pontos problemáticos (os mais "gritantes") do livro "Sonha e ganharás o mundo" do colombiano Cesar Castellanos. Ele é o "pai do G-12" uma metodologia de crescimento eclesiástico que gerou uma série de "sub-produtos" tão hereges quanto o original.
Os relatos fantásticos de CC são interessantes, no entanto é impossível de serem totalmente desacreditados, mas igualmente impossível de serem confirmados pois são basicamente “visões” únicas e exclusivas de CC, tão somente ele afirma “ver” os anjos e os fatos são descritos por ele sempre de maneira vaga e imprecisa. Seria sobremodo interessante que seus relatos fossem acompanhados de dados precisos (testemunhas oculares, endereços, datas exatas, etc.) a fim de que pudesse ser comprovada (ou não) a veracidade de tais relatos. O argumento da experiência subjetiva, não comprovável e carente de evidências que a consubstanciem é inválido pela sua própria natureza e intentar equiparar tal experiência aos fatos narrados nas Escrituras Sagradas também não acresce nada pois como cristão considero a Bíbla como única e entendo que nenhuma experiência de qualquer pessoa que seja pode ser equiparada a Palavra de DEUS, pois mesmos estes possuem testemunhas e são claramente documentados, sendo situados de forma clara no espaço e no tempo.
Qualquer ensinamento que queira ser exposto à Igreja Cristã necessita ser exaustivamente analisado para que possa ser aceito e qualquer experiência que vise corroborar tal ensinamento deve ser claramente comprovada. Além disso devemos compreender que as experiências servem para ilustrar o ensinamento e nunca para embasá-lo. O que embasa um ensinamento é a Palavra de DEUS e não experiências, mesmo que sejam belas, empolgantes e piedosas.
O que nos propomos aqui é efetuar essa análise detalhado sobre o que CC apresenta como ensino e testemunho.
Para simplificar usaremos as seguintes abreviaturas:
CC – César Castellanos
XX.Y – Onde XX é o número da página do livro em questão e Y é o parágrafo específico onde está a citação enfatizada.
Nota 01 - Na contra-capa do livro somos informados que DEUS teria dito a Cesar Castellanos (CC) “sonha porque os sonhos são a linguagem do meu Espírito”.
Supondo que aceitemos tal “revelação” como legítima devemos concluir que, na melhor hipótese, CC a compreendeu errado, pois se a aceitarmos como nos é mostrada teremos que entender que todo e qualquer sonho é uma expressão da vontade de DEUS. É fato que DEUS falou ao Seu povo (mas ainda não foi provado que falou com CC) através de sonhos e é sabido que ainda hoje Ele opera dessa forma contudo, devemos ressaltar que mesmos os cristãos tem os mais diversos tipos de sonhos: desde eróticos (em especial em adolescentes) a até os totalmente absurdos.
Sabe-se que sonhos são, na maior parte dos casos, reflexos das experiências cotidianas ou uma forma de suprir as frustrações e anseios do ser humano.
Se CC se refere ao termo “sonhos” como sinônimo poético para anseios e propósitos temos outro problema. Muitos anseios por mais corretos e bons que possam parecer ainda assim não são a vontade do SENHOR. Um exemplo? Vejamos a história de Davi, era o seu anseio edificar o Templo para adoração ao DEUS Vivo, contudo este mesmo DEUS não o permitiu. Não havia, humanamente falando, razão nenhuma que impedisse tal “sonho”, o objetivo de Davi era bom, mas não era o plano de DEUS, logo não poderia ser concretizado.
Talvez possam argumentar que se um determinado “sonho” se concretiza é porque tem a aprovação de DEUS. Isso seria uma aplicação variante do chamado “conselho de Gamaliel” (Atos 5), o que de fato é um argumento improcedente. A construção da Torre de Babel ia diretamente contra a vontade DEUS, contudo Ninrode a encabeçou e a fez progredir muito antes da intervenção divina. O “sonho” de Ninrode era construí-la. A prostituição é tida como a “profissão mais antiga do mundo” e sua durabilidade não significa aceitação de DEUS, o islamismo decorre do “sonho” de Maomé ver os povos árabes unidos e hoje é o grupo religioso que mais cresce no mundo e com certeza o que tem entre seus seguidores os mais violentos inimigos do cristianismo.
Alguns podem argumentar que se algo é feito (“sonho” colocado em execução) em Nome de DEUS ou oficialmente visando a glória de DEUS logo é bom e aprovado pelo Eterno. Isso é um absurdo. As inquisiçòes católicas e protestantes duraram séculos e ambas foram feitas “em nome de Deus”, mas sabe-se que tais abusos eram fruto da histeria religiosa, ambição econômica e política e não da orientação divina. Assim sendo, fica patente que não é pelo fato de que um sonho/anseio é declaradamente em Nome de DEUS ou para a Sua glória que é abençoado por DEUS.
Como então aceitar como sendo verdadeira a revelação que CC recebeu? Na melhor hipótese CC confundiu uma idéia sua com algo vindo de DEUS. Nesse caso como podemos considerar a afirmação de CC que tal ensinamento é oriundo de DEUS?
Nota 02 – 13.2 – O início da relação entre CC e DEUS é estranho. Aqui lemos que ele falou com DEUS nos seguintes termos: “… faz algo comigo, o que tu quiseres, porém que seja agora!”
Pode-se compreender o seu afã para ver a atuação em sua vida, mas o uso de imperativos e de frases para com o SENHOR DEUS intentando definir ações e tempos é assaz estranho. Diriámos que até inaceitável, pois se eu me coloco em posição de rendição perante o Altíssimo o uso de tal terminologia é incompatível à postura do servo que digo ser. Sei que atualmente é comum o uso de tais frases de efeito em orações e pregações em alguns círculos evangélicos, contudo tal postura apenas evidencia o estado de desvio doutrinal que se encontra a comunidade evangélica moderna.
Nota 03 – 22.1 – CC afirma que DEUS, em tudo que faz, sonha, planeja, desenha e então executa e que posto sermos imagem e semelhança de DEUS também temos a capacidade de planejar e sonhar nosso futuro como DEUS fez.
A questão referente ao o que são os sonhos já foi debatida na “NOTA 01″ e por extensão podemos entender que tal situação (sonhar) não se aplica a DEUS, contudo, é interessante que acrescentemos que posto não haver ontem ou amanhã para DEUS a idéia dEle planejar não se adequa, pois planejar envolve projetos futuros. O conceito de futuro é aplicável a DEUS? É claro que não!
Agora quanto ao fato de sonharmos como será o nosso futuro é algo natural, contudo, o fato de nós o sonharmos não significa que ele (o futuro sonhado) necessariamente ocorrerá. Um servo fiel de DEUS sabe que a sua vontade deve se submeter à vontade DEUS, assim sendo, os sonhos do homem são como a neblina da manhã (leiam Tiago 4:13-16 para uma melhor compreensão). O cristão maduro tem plena consciência que a vontade de DEUS, ainda que não lhe seja a princípio a que ele queira, é melhor e deve ser seguida fielmente pois ela é “boa, perfeita e agradável” (Rm 12.1-2).
Nota 04 – 24.3 – Lemos que CC atreve-se a tecer o seguinte comentário sobre a morte de Katherine Kulhman:“irmão não creio que ela tenha morrido; é neste tempo tão difícil que Deus mais necessita de Seus servos; talvez os que morrem são os que não podem resistir as provas que virão antes da grande tribulação”.
Ora quando ele (CC) afirma que Deus necessita de alguém ou de algo acaba negando o atributo divino da todo-suficiência que define que pelo fato de DEUS ser todo-poderoso Ele tem tudo que necessita em si mesmo e não depende de nada nem de ninguém, pensar de forma diferente com relação ao Eterno DEUS é considerá-lo limitado. Pressupor que DEUS não é todo-suficiente é intentar rebaixá-lo e podemos considerar como sendo ofensivo para com o Todo-Poderoso se referir a Ele de tal forma.
Nota 05 – 24.3 a 25.1 – Neste trecho lemos o relato do acidente de CC quando ele cai do 3o. andar de um prédio, logo depois de ter pronunciado a frase analisada no item acima.
A situação é confusa. Parece que o predio onde ele estava desmoronou (explosão, atentado, terremoto?) e ele e seu amigo (supondo que outras pessoas não estavam presentes no prédio) despencaram e foram soterrados por entulhos decorrentes do acidente (esse amigo cristão morreu?). É importante frisar que ele escreve que foi sepultado debaixo de “um mar de escombros”. Logo em seguida CC supostamente nota que estava morrendo pois afirma que “seu espírito estava se desprendendo do seu corpo” (não seria somente um delírio decorrente do trauma?) e ele teria dito para DEUS: “Tu precisas de mim na terra”. Ora não fosse suficiente ele afirmar uma dependência de DEUS referente ao ser humano ele (CC) agora afirma que DEUS depende de César Castellanos! Isso é no mínimo absurdo! DEUS não depende de ninguém! Torno a repetir que um dos atributos de DEUS é a todo-suficiência e qualquer afirmação em sentido contrário é um absurdo. Sobretudo quando parte de alguém que se apresenta como cristão.
No continuação dos fatos ele afirma que seu espírito “veste” o seu corpo, contudo este continua imóvel e somente após CC pronunciar a frase “Senhor Jesus Cristo em teu nome …” o seu corpo físico se “liga” ao corpo espirtual e ai ele remove os entulhos. Mas ele não estava sepultado sob “um mar de escombros”. Ora foi ele mesmo que disse isso! Se ele estava soterrado como conseguiu se libertar? Uma super-força? Ou será que o “mar de escombros” era bem rasinho? Ou talvez haja um erro na descrição dos fatos, quiçá decorrente da queda e seu natural trauma psicológico?
Nota 06 – 25.2 a 26.1 – Aqui somos informados pelo próprio CC que teria ocorrido um incidente mais sério que o anterior. Segundo CC ele teria sido atacado por um homem, supostamente possesso por demônios, que lhe teria desferido um ataque com um punhal no qual os seus dedos teriam sido feridos.
Bom o relato é impreciso, na melhor hipótese. Como um ferimento na mão pode ser mais sério que ser soterrado num “mar de escombros”? Só se esse “mar” não fosse de fato um mar, mas talvez só uma poça. Além disso é interessante que CC afirma que o agressor cortou os dedos de sua mão. O relato evidencia que os dedos não foram decepados mas apenas feridos, como então tal ferimento poderia gerar a morte. Teria ficado CC por horas sem atendimento médico e sem tentar estancar o sangue? Não somos informados sobre o tempo que transcorreu entre o ataque e o atendimento médico (aliás sequer tal atendimento é citado), mas ele diz que após correr uma (01) quadra ele desmaia e cai “praticamente sem vida” (conforme suas própria palavras). Somo levados a pensar que tal corte deve ter sido muito grave (teriam sido seus dedos decepados?), pois se o sangramento foi tão sério que no lapso de tempo de percorrer tão somente uma única quadra ele praticamente morreu deve ter perdido muito sangue, ou então o nosso protagonista (CC) foi enfático demais no seu relato.
Logo após o seu desmaio CC tem visões de anjos, corredores e luzes, tal fenômeno é comum nos relatos de experiência de quase morte e alguns especialistas atribuem isso a tão somente um delírio (decorrente do trauma psicológico) e não uma experiência real. Bom em tal “experiência” CC afirma que ora a DEUS e lhe diz que sua morte é tão somente um atentado satânico. Será que DEUS não sabia? Parece que CC convenceu a DEUS de seu “caso” e assim retorna, novamente, ao seu corpo e mais uma vez, tal qual os personagens de histórias em quadrinhos, volta da morte.
Nota 07 – Capítulo 5 – Insistência de requerer provas por parte de DEUS para entender e se submeter a Sua soberana vontade.
É curioso como percebemos no testemunho de CC uma incredulidade, ou na melhor hipótese, uma incapacidade de entender ou aceitar a vontade de DEUS ou quiçá ainda uma grande demonstração de insegurança. No caso do seu envolvimento amoroso com sua esposa ele mesmo afirma que ocorreram diversas “provas” (requeridas pelo próprio CC) para que ele se convencesse que essa era a vontade de DEUS, e mesmo quando CC afirma categoricamente que DEUS lhe havia dito que ela (Cláudia) seria sua esposa ele ainda requer novas “provas” de DEUS.
Tal postura nos leva a pensar numa insegurança da relação do homem com DEUS, ou até em dúvidas enormes (seria incredulidade?) sobre a manifesta vontade de DEUS. O conceito de colocar a prova a vontade de DEUS é baseada na experiência de Gideão, contudo devemos entender que este exemplo é um caso a parte e sobre tal não se pode fundamentar uma teologia. Porque, primeiro devemos entender que Gideão viveu na Velha Aliança e nesse período o Espírito Santo de DEUS ainda não havia sido derramado (Atos 1.8) e dessa forma as pessoas ainda não possuiam a comunhão íntima com DEUS que caracteriza a experiência do cristão pois este vive na Nova Aliança
Depois publicarei mais comentários e análises desse livro
Graça, paz e sabedoria!
Victor Hugo Ramallo, pastor

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