Música, Algoritmos e Uzá
- Victor Hugo Ramallo

- 5 de nov. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de out. de 2022

A novidade é realmente surpreendente!
Um website chamado “Relevant Magazine” noticiou o surgimento de um novo artista gospel e divulgou sua primeira produção.
O nome do artista é JC (John Charlie? Jack Coltrane?) e a sua música tem por título “Biblical Love”.
Qual o problema disso? Será que a música é fantasticamente boa ou sua letra tem conceitos tão impactantes assim? Talvez o vocalista seja maravilhoso ou a banda extremamente boa?
Nada disso.
Ouvi a música e traduzi a letra. Musicalmente é apenas mais do mesmo (o sem graça estilo indie tão usado no estilo worship em diversas igrejas locais), não é ruim. É só chato. O vocal segue o padrão choroso e meloso que, a este escritor, irrita profundamente.
A letra é tão profunda como um pires e o mais incrível, apesar de repetir a palavra “biblical” 09 vezes, sempre se referindo ao suposto amor expresso em nenhum momento se refere a DEUS, ao Senhor JESUS ou ao Espírito Santo. Bom, é verdade que algumas músicas gospel de hoje em dia até citam o SENHOR, mas são pura tolice e algumas chegam a um nível de heresia que beira a blasfêmia.
Lendo a letra fico pensando amor de quem? Direcionado a quem? Quem é o que ama nessa canção? Pela leitura da letra não parece se referir ao amor que procede do SENHOR.
Bom, então é uma música como qualquer outra das tantas "músicas gospel" que são tocadas por aí? Apenas mais do mesmo que nada tem a oferecer e em nada espelha uma vida consagrada ao SENHOR? Se assim for qual o motivo então de perder o meu tempo e o de vocês com este texto?
A questão é simples. Tal música não foi composta por um novo artista, nem mesmo um velho redescoberto. Ela, segundo a revista, teria sido feito através de um sistema de algoritmos (Inteligência Artificial) desenvolvidos pela Marquis Bone Enterprises – MBE (curiosamente não consigo acessar o site deles, parece “fora do ar”). Não há uma pessoa, é apenas fruto de um sistema de computação.
Segundo a revista criar música assim teria as seguintes vantagens:
“Com a IA, não há egos complicados, nenhum processo de desconstrução espiritual bagunçado, nenhuma pergunta e, claro, nenhum escândalo que ameaça a carreira. Refrão, alguns jargões bíblicos e uma onda emocional razoavelmente divertida.”
Nesse ponto é verdade, boa parte dos integrantes da indústria gospel está envolvido nesses problemas.
A MBE é apresentada na web como sendo esta sua missão:
“A missão da Marquis Boone Enterprises é ministrar, produzir filmes, televisão, publicar livros e aconselhar e orientar pessoas.”
Uma missão empresarial no mínimo estranha. Mas como já escrevi, não consigo ver o conteúdo de seus sites ou redes sociais. Estranho.
Bom, supondo que tal notícia seja verdadeira, afinal a música citada na matéria existe e pode ser ouvida no Youtube e lá consegui algumas informações a mais.
Vejam só:
Provided to YouTube by TuneCore
Biblical Love · Jesus Christ.
Biblical Love ℗ 2021 Music From Heaven
Released on: 2021-10-01
Auto-generated by YouTube.
O autor, o tal JC, aqui é apresentado como sendo “Jesus Cristo”! Como assim?!? Seria um erro do Youtube, afinal essa informação foi autogerada pela plataforma. Mas ao pensarmos no uso das iniciais “JC” a suspeita é grande e forte.
Bom, a letra é ruim e vazia, a instrumentação é fraquinha e a vocalização é chata. Mas isso é um problema?
Sim, é um problema, mas não é o mais sério.
O problema é supor que seria possível compor músicas para adorar o SENHOR por meios automatizados. Essa é a questão. Oras, a adoração musical deve ser uma natural consequência de uma vida de comunhão com o SENHOR e não apenas uma série de notas harmônicas e uma letra compreensível.
E se a música fosse de fato belíssima? Uma letra irretocável no sentido teológico-doutrinal? E com vozes harmoniosas e instrumentos tocados brilhantemente? Isso a tornaria aceitável?
Não. É claro que não.
A beleza de uma composição é secundária quando nos referimos a adoração cantada. E aí temos um problema que sempre confrontamos. Muitas vezes os cristãos e crentes em geral acabam aceitando uma música por questão de gosto, beleza ou de apuro, mas deveriam avaliar por testemunho dos envolvidos e proximidade destes ao SENHOR.
Essa notícia, sendo verdadeira, apenas mostra com o que as pessoas em breve conviverão. Simulacros automatizados de cristianismo na música e depois nas mensagens e é provável que muitos dirão que isso é bom e tudo depende de quem a recebe.
Talvez alguns dos meus leitores suponham que meu texto é porque sou um velho e ranzinza que “rejeita o moderno”. Nem tanto, afinal você está lendo o meu texto no meu site e o escrevi no meu PC. A questão não é o uso de tecnologias para facilitar nossa vida, mas em como encaro a responsabilidade da minha relação com o SENHOR e com o sagrado.
Ele quer que eu me envolva com Ele. Não devo terceirizar isso e muito menos pensar em automatizar meu relacionamento com o SENHOR.
Para encerrar peço que lembre da história de Uzá (II Samuel 6.3 a 9)
E puseram a arca de Deus em um carro novo, e a levaram da casa de Abinadabe, que está em Gibeá; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo. E levando-o da casa de Abinadabe, que está em Gibeá, com a arca de Deus, Aiô ia adiante da arca. E Davi, e toda a casa de Israel, festejavam perante o SENHOR, com toda a sorte de instrumentos de pau-de-faia, como também com harpas, e com saltérios, e com tamboris, e com pandeiros, e com címbalos. E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus. E Davi se contristou, porque o SENHOR abrira rotura em Uzá; e chamou àquele lugar Perez-Uzá, até ao dia de hoje. E temeu Davi ao SENHOR naquele dia; e disse: Como virá a mim a arca do SENHOR?
A Arca da Aliança só poderia ser carregada no ombro dos levitas, mas os homens quiseram “fazer algo melhor” e o SENHOR os lembrou que Sua vontade é para ser obedecida e não para ser “atualizada” (espero que leiam isto em algumas igrejas batistas por ai).
O SENHOR determinou que o louvor, seja ele cantado ou não, deve ser fruto de vidas consagradas a Ele e não de algoritmos computadorizados.
Pense nisso.
Um fraterno amplexo
um pastor batista conservador
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